Extremidades Geladas: quando mãos e pés frios merecem atenção
- Iara Machado
- 25/10/2025
- Curiosidades Saúde
Sentir as mãos ou os pés frios é algo bastante comum, especialmente em dias de temperatura mais baixa. Na maioria das vezes, isso é apenas uma característica individual, uma sensibilidade maior ao frio. No entanto, quando essa sensação é persistente ou vem acompanhada de mudanças na coloração da pele, pode ser um sinal de que algo não vai bem na circulação.
Conforme a reumatologista Dra. Cláudia Goldenstein Schainberg, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, o alerta deve acender quando as extremidades começam a ficar brancas, arroxeadas ou avermelhadas, de forma alternada e prolongada. “Essas alterações de cor podem indicar uma dificuldade na circulação sanguínea, tanto em vasos maiores quanto nos mais periféricos, como os capilares. Em alguns casos, isso está relacionado a uma condição chamada fenômeno de Raynaud”, explica.
O fenômeno de Raynaud ocorre quando há espasmos nos vasos sanguíneos das mãos e dos pés, reduzindo o fluxo de sangue e provocando mudanças visíveis na cor da pele. O episódio é geralmente desencadeado pela exposição ao frio e pode se manifestar em duas ou três fases: inicialmente a pele fica pálida, depois azulada e, em seguida, avermelhada, quando o fluxo sanguíneo volta ao normal. Se essa última fase não ocorre e o sangue demora a retornar, pode haver risco de falta de oxigenação nos tecidos e, em casos mais graves, até necrose.
A médica ressalta que o fenômeno é mais comum em países de clima extremamente frio, mas também pode estar associado a doenças reumatológicas autoimunes, como lúpus, esclerodermia, dermatomiosite e polimiosite. Além disso, inflamações dos vasos sanguíneos, conhecidas como vasculites, também podem causar o problema. Em alguns casos, o uso de certos medicamentos ou drogas ilícitas, como a cocaína, pode desencadear sintomas semelhantes.
Quando os sintomas persistem, a avaliação médica é fundamental. A Dra. Cláudia explica que não existe um exame único para identificar a causa das extremidades geladas, pois elas podem ter origens muito variadas. O médico vai direcionar a investigação segundo o histórico e o quadro clínico do paciente, podendo solicitar exames laboratoriais ou de imagem conforme necessário.
O tratamento depende da causa, mas algumas medidas simples podem fazer a diferença. “A principal orientação é manter o corpo aquecido. Usar roupas adequadas, luvas, meias grossas e cachecóis ajuda muito. Também é importante evitar a exposição prolongada ao frio e ambientes refrigerados”, orienta a especialista. Profissões que exigem contato direto com baixas temperaturas, como açougueiros ou atendentes de sorveteria, podem agravar o quadro e devem ser avaliadas com cuidado.
Quando há diagnóstico de uma doença reumatológica, o tratamento pode incluir o uso de vasodilatadores, que ajudam a melhorar a circulação e manter as extremidades aquecidas. “Mas cada caso precisa ser avaliado individualmente. O essencial é não ignorar sintomas que se repetem, pois, em algumas situações, eles podem indicar uma doença mais séria”, completa a médica.
Com uma trajetória sólida na medicina e especialização em reumatologia no Canadá e nos Estados Unidos, a Dra. Cláudia Goldenstein Schainberg atua no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, onde chefia o Laboratório de Imunologia Celular e o Ambulatório de Artrites da Infância. Também integra o corpo clínico dos hospitais Albert Einstein, Sírio-Libanês e Alemão Oswaldo Cruz.
Mais do que identificar doenças, a especialista destaca a importância do autocuidado. “Observar o próprio corpo é o primeiro passo para manter a saúde em dia. Mãos e pés frios podem ser apenas uma resposta natural ao ambiente, mas também podem sinalizar que é hora de procurar ajuda médica”, conclui.