Saúde do Coração da Mulher
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- Redação Saúde Minuto
- 14/05/2024
- Cardiologia Saúde SOBRAC
A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte em todo o mundo e, ao contrário de que muitas pensam, as mulheres tem um risco significativamente maior de morrer por DCVs do que por câncer. Entre as brasileiras, principalmente acima dos 40 anos, as cardiopatias chegam a representar 30% das causas de morte, a maior taxa da América Latina.
Sabemos que existem diferenças fisiológicas no funcionamento do corpo de homens e mulheres mas, essas diferenças vão além dos determinantes genéticos e, a DCV também se manifesta de forma diferente na mulher.
Fatore específicos ditados pelo ciclo biológico da mulher e a e sua variação hormonal acrescentam riscos que contribuem para a diversidade da evolução da DCV. Além disso, os valores sociais e comportamentais impactam no estilo de vida da mulher e podem explicar diferenças na manifestação da DCV no sexo feminino.
Na mulher, por exemplo, a dor torácica que é o sintoma mais prevalente do infarto agudo do miocárdio (IAM), pode com mais frequência ser atípica isto é, apresentar dor na parte superior das costas e pescoço, fadiga, náuseas e vômitos. Ainda, a maioria das mulheres apresenta sintomas prodrômicos como falta de ar, fadiga incomum ou desconforto em braço/mandíbula nas semanas que antecedem o evento.
Conhecer os fatores de risco da DCV permite estabelecer estratégias de prevenção que podem, a médio e longo prazo, alterar o prognóstico e os desfechos da DCV.
Esses fatores de risco são classificados como modificáveis e não modificáveis. A mulher tem, também, fatores de risco específicos do sexo feminino.
Como fatores de risco modificáveis temos:
–Hipertensão arterial (HA): fator de risco mais importante na mulher! Determina maior risco de infarto;
–Obesidade/sobrepeso: diretamente associado à presença de HA. Na gestação, aumenta o risco de doença hipertensiva da gravidez e/ou diabetes gestacional que, aumentam a mortalidade materno-fetal;
–Sedentarismo: desde os primeiros anos de vida, a mulher tem progressivamente menor participação em atividade física levando à piora do condicionamento físico e aumento de outros fatores de risco como obesidade, HA e dislipidemia;
–Tabagismo: mulheres que fumam tem o risco cardiovascular 25% maior que homens tabagistas;
–Colesterol alto: fator influenciado pelo estilo de vida, genética e variações hormonais como menopausa. Vale ressaltar que a regressão do ateroma e o benefício da redução do colesterol parecem maiores na mulher do que no homem;
–Diabetes (DM): o infarto do miocárdio acontece mais cedo e com maior mortalidade na mulher diabética quando comparado ao homem. Ainda, na diabética, o risco de um infarto fatal e três vezes maior que na mulher não diabética;
–Estresse: ansiedade e depressão aumentam a morbi-mortalidade por DCV;
Os fatores de risco não modificáveis são:
–Histórico familiar: mulheres com idade<65 anos e história materna de infarto tem risco 4x maior de apresentar doença coronariana aguda;
-Idade: ao promover alterações metabólicas e inflamatórias, aumenta os fatores de risco cardiovascular.
Temos ainda os fatores de risco específicos da mulher:
–Menopausa: perda da proteção do endotélio vascular pelo estrogênio;
-Distúrbios relacionados à gravidez: complicações como diabetes gestacional e doença hipertensiva da gravidez, aumentam em 3 a 4x o risco de doença coronariana ao longo da vida; O diabetes gestacional aumenta o risco de DM em 7x, o risco de acidente vascular cerebral (AVC) em 2x e de infarto do miocárdio em 4x, independentemente da paciente se tornar ou não diabética;
-Anticoncepcionais hormonais orais: dobra o risco de doença coronariana de etiologia aterotrombótica, sendo potencializado pelo tabagismo, HAS e DM;
-Síndrome do ovário policístico: o excesso de hormônios, leva a maior probabilidade de desenvolver dislipidemia, HAS e DM;
-Distúrbios inflamatórios sistêmicos e autoimunes: acontecem mais na mulher do que no homem e, aumentam o risco de infarto e AVC;
-Radiação para tratamento do câncer de mama: ao aumentar a exposição do coração à radiação ionizante, aumenta o risco de doença isquêmica do coração.
Texto por Drª. Veridiana de Andrade | Cardiologista Arritmologista e membro da Sociedade Brasileira de Arritmia Cardíaca