Estimulação cerebral profunda no tratamento da depressão
- Rafaela Navarro
- 15/09/2025
- Bem-estar Neurologia Saúde
O transtorno depressivo maior (TDM) é uma das doenças psiquiátricas mais comuns e incapacitantes do mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ele afeta cerca de 4,7% da população global e ocupa posição de destaque entre as principais causas de incapacidade. Apesar da ampla oferta de antidepressivos e psicoterapia, apenas um terço dos pacientes atinge remissão sustentada, tornando a depressão resistente ao tratamento (DRT) um desafio clínico e de saúde pública.
Diante desse cenário, novas abordagens vêm sendo investigadas. Entre elas, a estimulação cerebral profunda (ECP), técnica cirúrgica já consolidada no tratamento de distúrbios do movimento, como o Parkinson, e começa a ganhar espaço também na psiquiatria.
Segundo ele, a técnica funciona como um “marcapasso cerebral”: eletrodos são implantados em áreas específicas do cérebro e conectados a um gerador que emite impulsos elétricos, modulando a atividade neural. “Estudos iniciais evidenciam taxas médias de resposta em torno de 60% em pacientes com depressão refratária”, explica a Dra. Juliana de S. Batista Braga, neurologista do Hospital Anchieta.
A seleção de pacientes, no entanto, ainda é um ponto sensível. Quais os critérios médicos e neurológicos para um paciente ser considerado elegível para esse tipo de cirurgia?. Segundo a Dra. Juliana “Hoje, a ECP é aplicada apenas em protocolos experimentais e ensaios clínicos. Ainda não há indicação clínica formal para uso rotineiro no tratamento da depressão.”
Outro ponto de interesse é a experiência já consolidada em outras doenças. A estimulação profunda já é usada em doenças como Parkinson. “No Parkinson, a técnica é eficaz em um perfil específico de pacientes. A diferença está apenas no alvo cerebral estimulado, que é distinto nos casos de depressão”, esclarece a médica.
Mas, como todos os procedimentos, podem existir complicações. “As complicações podem incluir hemorragia, infecção ou falha do dispositivo. Já os efeitos adversos da estimulação podem se manifestar como alterações na fala ou coordenação motora. Embora pouco frequentes, exigem ajuste fino dos parâmetros e localização precisa dos eletrodos”, afirma.
“Há estudos em andamento em TOC, síndrome de Tourette e até dependência química. Mas ainda precisamos de evidências robustas, com maior número de pacientes e seguimento prolongado”, pondera a neurologista.
Embora ainda experimental para depressão, a ECP já se apresenta como uma promessa em um campo onde os recursos atuais deixam muitos pacientes sem resposta. Seu avanço dependerá de estudos clínicos rigorosos, que possam comprovar segurança, eficácia e definir o perfil ideal de quem pode se beneficiar.