Exercício físico reduz em 28% risco de recidiva do câncer de cólon, revela estudo internacional
- Redação Saúde Minuto
- 09/06/2025
- Bem-estar Saúde
Pesquisa publicada no New England Journal of Medicine comprova que programa estruturado de atividade física após quimioterapia melhora sobrevida e diminui chances de retorno do tumor
Um programa estruturado de exercícios físicos pode ser a chave para evitar que o câncer de cólon retorne. É o que revela o estudo CHALLENGE, publicado em 1º de junho no New England Journal of Medicine, que acompanhou 889 pacientes por quase oito anos em 55 centros oncológicos de seis países.
A pesquisa mostrou que pacientes com câncer colorretal em estádio III ou II de alto risco que seguiram um programa supervisionado de exercícios por três anos após o término da quimioterapia tiveram uma redução de 28% no risco de recidiva ou desenvolvimento de um novo câncer. Além disso, o risco de morte caiu 37% em comparação com o grupo que recebeu apenas orientações gerais de saúde.
Os resultados são ainda mais impressionantes quando analisados a longo prazo. Após cinco anos, a taxa de sobrevida livre de doença foi de 80,3% no grupo que se exercitou, contra 73,9% no grupo controle. Já a sobrevida global em oito anos chegou a 90,3% versus 83,2%, respectivamente.
Caminhada como medicina
O protocolo do estudo era simples, mas rigoroso: principalmente caminhadas rápidas de 45 minutos, quatro vezes por semana, totalizando cerca de 150 minutos semanais de exercício moderado. O programan contou com supervisão profissional e metas claras, fatores que os pesquisadores consideram fundamentais para o sucesso da intervenção.
“É um marco. Ver um estudo de fase 3 publicado em uma revista de renome internacional ganhar destaque com um tema como esse reforça a importância de irmos além das intervenções medicamentosas”, afirma Aline Chaves Andrade, oncologista da Oncoclínicas.
Para a especialista, o estudo comprova cientificamente o que já se observava na prática clínica. “Durante muito tempo, o foco esteve apenas nos medicamentos. Agora, a ciência mostra que, após o tratamento, a responsabilidade é compartilhada: cabe à medicina oferecer os melhores protocolos, mas também cabe ao paciente se envolver ativamente no cuidado com o corpo e a saúde”, explica.
Survivorship: o cuidado que continua
O estudo CHALLENGE representa um marco no que se chama de “survivorship” – termo que se refere aos cuidados contínuos prestados aos pacientes após o término do tratamento oncológico. Segundo os pesquisadores, o exercício físico atua como intervenção terapêutica com impacto direto na sobrevida, modulando fatores como inflamação, sensibilidade à insulina, vigilância imunológica e equilíbrio hormonal.
“Estamos diante de evidência científica robusta que reforça a urgência de integrar o exercício físico aos programas de survivorship oncológicos. Essa prática simples, acessível e segura pode salvar vidas”, destaca Luciana Landeiro, líder nacional do OC Sobreviver, programa de survivorship da Oncoclínicas
No Brasil, onde os casos de câncer de cólon vêm aumentando, inclusive entre jovens, essa abordagem representa uma oportunidade concreta de transformar o cuidado oncológico. O estudo também levanta reflexões importantes sobre como estratégias de reabilitação e promoção da saúde podem ser adaptadas à realidade do Sistema Único de Saúde (SUS).
Mudança de paradigma
A pesquisa internacional, apresentada durante a ASCO 2025, maior congresso mundial dedicado à oncologia, marca uma mudança de paradigma no tratamento oncológico. Além do exercício físico, outros temas como alimentação e controle da síndrome metabólica também ganharam espaço na programação científica do evento, reforçando a importância de abordagens integradas no combate ao câncer.
“Esse é o momento de repensar os hábitos. Exercício não é mais só um conselho de bem-estar. É parte ativa da estratégia para evitar que o tumor volte. Precisamos levar essas evidências para o consultório, com o mesmo peso que damos às opções terapêuticas. O cuidado com o paciente continua depois da última dose de quimioterapia”, conclui Aline Chaves Andrade.
Os resultados do estudo CHALLENGE representam uma nova era no cuidado oncológico, onde o estilo de vida saudável deixa de ser apenas uma recomendação para se tornar parte fundamental do plano terapêutico dos pacientes com câncer.