Divã Saúde Minuto | Narcisismo
- Redação Saúde Minuto
- 11/10/2021
- Divã Saúde Minuto Valéria Amodio Video
No primeiro vídeo do quadro Divã Saúde Minuto, falaremos sobre Narcisismo com a psicanalista Valéria Amodio.
P) Raquel Rojas:
Sejam bem-vindos ao portal Saúde Minuto! Hoje a gente estreia o quadro “Divã Saúde Minuto”, um espaço para a gente conhecer um pouco mais sobre a mente e sobre o comportamento de nós, seres humanos.
Neste primeiro programa. A gente vai falar sobre narcisismo. Será que você é narcisista? Será que você já esbarrou com algum narcisista aí pelo caminho? Com certeza sim. Para falar sobre esse assunto, eu recebo a nossa colunista e psicanalista Valéria Amodio. Valéria, seja muito bem-vinda.
R) Dra. Valéria Amodio:
Muito obrigada, Raquel, é um prazer estar aqui.
P) Raquel Rojas:
O prazer é todo nosso. Valéria, nessa época de redes sociais, dessa febre das selfies, podemos dizer que estamos mais narcisistas?
R) Dra. Valéria Amodio:
Sim, com certeza. Claramente estamos mais narcisistas. Estamos muito pautados na imagem. O narcisismo é muito focado na imagem que queremos passar.
P) Raquel Rojas:
Que muitas vezes nem é tão real assim. Por isso que as pessoas acabam abusando de filtros e de outros recursos. E Valéria, existe um limite? Quando é que a luz vermelha acende para saber que a gente já está ultrapassando os limites. Realmente na hora de ser de se expor tanto, dessa super exposição?
R) Dra. Valéria Amodio:
Quando a nossa vida gira em torno disso. E dá para perceber que muita gente passou desse limite. Fazemos tudo quando vê que a pessoa tá fazendo tudo para expor, para tirar foto, enfim.
P) Raquel Rojas:
Então é necessário que a gente saiba o momento de parar, tem que ter um momento de parar realmente?
R) Dra. Valéria Amodio:
Claro, tem os limites, de parar e de nem ir adiante na realidade. Temos de perceber o foco da nossa vida. É para isso, é para se expor? Por quê? Eu acho que são questões que vale a pena fazermos, para perceber o momento de parar.
P) Raquel Rojas:
E existe um narcisismo clássico, né, mas também existe um narcisismo um pouco patológico, caracterizado como narcisismo patológico. Na verdade, Valéria, o que é o narcisismo? Você pode explicar um pouco para a gente até para que a gente saiba um pouco mais sobre as variações desse perfil?
R) Dra. Valéria Amodio:
Excelente você ter perguntado isso, porque o que a gente chama coloquialmente de narcisismo, seria um narcisismo exagerado patológico. O narcisismo em si é algo que acontece com todo mundo e é necessário que a gente passe pela fase do narcisismo para ser saudável.
Essa fase do narcisismo é a fase em que a criança, todo mundo que já conviveu com criança, tem filha, tio e tal, percebe a criança se olhando no espelho, a gente chama de fase do espelho, quando ela olha, se assusta e vê a diferenciação dela do mundo e do outro.
Então, quando ela consegue perceber que ela é uma coisa única, diferente do outro, isso é muito saudável e necessário para a gente viver no mundo, né? Sabendo que eu sou uma pessoa, você é outra, né?
Agora, quando isso ultrapassa e a gente só enxerga nós, a nossa vida, como a única coisa no mundo, né? Como se a nossa vida fosse o mundo, como se a gente fosse o globo, digamos assim, e tudo está em função de nós, né? Então, esse é um narcisismo exagerado é prejudicial.
P) Raquel Rojas:
Bom, nós vamos esbarrar muito provavelmente com narcisistas em todas as áreas da nossa vida: na área profissional, na área familiar e também nos relacionamentos amorosos. Quais são as características de um narcisista quando ele está envolvido em um relacionamento amoroso, Valéria?
R) Dra. Valéria Amodio:
Em qualquer relacionamento, não necessariamente só o amoroso. Ele está olhando para as necessidades dele, para os desejos dele, para ele, porque ele quer naquele momento. Ele não consegue enxergar o outro.
Então, no relacionamento amoroso, que é uma troca que é dupla, parceria, ele não consegue viver nessa parceria, é só em função dele. Então, a gente consegue enxergar, acho que diariamente, as características dele olhando para ele.
P) Raquel Rojas:
Aquele velho ditado, né? “Vem a nós é o ao vosso reino, nada.”
R) Dra. Valéria Amodio:
Exatamente.
P) Raquel Rojas:
A gente também tem um perfil, dentro da família. A gente sabe que na família, a gente pode detectar muitas vezes um pai narcisista, uma mãe narcisista. Isso é comum acontecer? E como a gente consegue se desvencilhar quando a gente sai de um lar, de uma convivência familiar com algum tipo, uma referência tão importante como um pai e uma mãe narcisista?
R) Dra. Valéria Amodio:
É muito difícil. Quem vive em famílias onde tem alguém assim, pai ou mãe muito narcisista, é complicado porque a pessoa aprendeu a viver daquela forma. Ela aprendeu a viver, em função daquela pessoa, né? Isso, isso foi como é para ela, é o que é vida, o que é, né, se relacionar.
Então, é muito difícil no começo. Normalmente, são pessoas que passaram por certos sofrimentos, e ela só vai perceber adulta, se perceber, porque pode ser que ela repita relações como essa, né?
Então, ela, a gente falou do amoroso, pode ser que ela encontra alguém que seja narcisista, e ela tá lá porque, como ela sabe viver, no fundo, apesar de ser algo difícil que não é saudável, mas é como ela se sente confortável em estar, né, naquele, naquela posição.
P) Raquel Rojas:
Reproduzindo isso, e se sente até confortável de repente caindo nas mãos de um chefe, por exemplo.
R) Dra. Valéria Amodio:
Isso sim, porque a pessoa repete aquilo que ela aprendeu. Aquilo e naquela posição que ela está, então pode ser um chefe, pode ser num relacionamento amoroso, em amizades…
P) Raquel Rojas:
Independente desse relacionamento ser afetivo, profissional ou até mesmo familiar, ele tende a ser mais abusivo um relacionamento com o narcisista, Valeria?
R) Dra. Valéria Amodio:
Sim, com certeza acaba sendo abusivo porque numa relação existe a necessidade de dois e só tá sendo privilegiada nessa cidade de um, né? Então acaba sendo abusiva. Só que não quer dizer que o narcisista ele tá, ah, com essa intenção de ser abusivo, nem é de de judiar, maltratar outra pessoa, ele não, não é pior que isso, ele nem enxerga a outra pessoa no fundo, né, assim nas necessidades dele. E aí, nisso, é o resultado é um relacionamento abusivo, mas é e eu explico isso porque porque a pessoa fala, gritar, espernear e tal, e ele não vai perceber que ele está sendo abusivo, que é porque o outro não existe.
P) Raquel Rojas:
Não importa para ele, verdade? Ele olha pro próprio umbigo sempre.
R) Dra. Valéria Amodio:
O outro está lá para servi-lo, para atender as necessidades dele.
P) Raquel Rojas:
Muito provavelmente, ele entrega pouco e quer receber muito, né?
R) Dra. Valéria Amodio:
É, é ele entrega, no fundo assim, não é nem que entrega. Pode ir, vamos falar em migalhas, pode acontecer que dê certo, essa idade dele com da outra pessoa. Então, ah, legal. Foi bom pros dois, mas ele não tá lá para entregar. Ele, ele tá lá para receber, para fazer pra ele se satisfazer.
P) Raquel Rojas:
Agora uma pergunta que não sei qual vai ser a resposta, mas eu vou fazer: quem é mais narcisista, o homem ou a mulher? A gente tem aí alguma algum indício de quem é mais narcisista?
R) Dra. Valéria Amodio:
Teoricamente, não teria porque um ser mais do que o outro, mas a gente sabe que culturalmente a nossa cultura privilegia, o homem. É sempre foi focado nele, então se a gente for pensar e a gente lembrar de filmes que a gente viu, antigos dos anos 70, em que o homem ia trabalhar, chegava em casa. A mulher tava cuidando lá da prole, ele chega, ele tira o sapato lá atrás, ela vem com o chinelinho, o jantar tá pronto, ele vai receber os companheiros lá do trabalho.
Ela se arruma então para aquele dia, porque vai receber, tá lá de Bobes o dia inteiro, só tira o Bobe na hora que chega. O marido e tal, isso é uma cultura do narcisismo para o homem. Então a gente tem de acreditar que até enxerga, muito que tem mais homens narcisistas, por isso.
P) Raquel Rojas:
Existe uma forma de farejar esse narcisista etc? Até desviar desse narcisista seja em qualquer tipo de relação?
R) Dra. Valéria Amodio:
Olha, a melhor forma da gente farejar, por incrível que pareça, é a gente se conhecer, o autoconhecimento, por quê? Porque a gente consegue farejar o outro e achar estranho algo no outro se a gente se conhece, sabe as nossas necessidades, dos nossos desejos, se a gente não sabe, se a gente não se conhece, o outro pode falar coisas e a gente, talvez numa baixa autoestima, numa necessidade do outro, a gente vai topando e vai indo tentando corresponder ao outro.
Quando a gente sabe que a gente precisa, o que a gente quer e tal, fica mais fácil de ver: “É estranho isso que ele quer, só eu dou e o outro não, né?” Então, por incrível que pareça, é a gente se conhecendo, e aí fica fácil perceber que ele EStá olhando só pra ele, fica muito claro na realidade.
P) Raquel Rojas:
Então a gente deve olhar, para dentro e saber o que que a gente aceita, o que a gente quer e onde a gente se coloca e jamais se encolher para caber no mundo do outro. Eu quero te agradecer muito por dividir, compartilhar com a gente o seu conhecimento, e a gente vai se encontrar em outras, outras ocasiões. Com certeza, para debater outros temas, né?
R) Dra. Valéria Amodio:
Eu que agradeço, Raquel, é muito bom poder dividir um pouco do conhecimento, para a gente viver de uma forma melhor e com mais consciência. As nossas relações serem feitas com mais consciência e aí, naturalmente, com mais qualidade.
P) Raquel Rojas:
É isso, muito obrigada e até a próxima.
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