Aleitamento materno de mães que tiveram Covid-19 pode proteger bebês contra a doença
- Redação Saúde Minuto
- 23/06/2021
- Bem-estar COVID-19 Fabiola La Torre
Além disso, vale destacar que estar infectada não contraindica a amamentação nem apresenta riscos para o bebê
Há muito tempo sabe-se da importância do aleitamento materno e da sua capacidade de transmitir anticorpos, melhorando a imunidade do bebê e protegendo contra determinadas patologias, além de ser considerado o melhor alimento até os 6 meses de vida.
Mas, será que o leite materno das mamães que tiveram Covid-19 e possuem anticorpos são capazes de proteger o bebê?
Em 20 de dezembro de 2020, com o início do programa nacional de vacinação contra Covid-19 em Israel, mulheres que estavam amamentando e eram pertencentes a grupos de risco foram encorajadas a receber a vacina.
Um estudo, a partir de então, investigou se a imunização materna resulta na secreção de anticorpos SARS-CoV-2 no leite materno e avaliou qualquer potencial evento adverso entre as mães e seus bebês.
As mulheres que participaram desse estudo de corte prospectivo estavam realizando amamentação tanto exclusiva como parcial. Todas as participantes receberam duas doses da vacina Pfizer-BioNTech com 21 dias de intervalo.
Amostras de leite materno foram coletadas antes da administração da vacina e, em seguida, uma vez por semana durante seis semanas, começando na segunda semana após a primeira dose. Níveis de anti-SARS-CoV-2 com um nível de mais de 0,8 U / mL eram considerados positivos.
Ao todo 84 mulheres completaram o estudo, fornecendo 504 amostras de leite materno.
Os níveis médios de anticorpos IgA específicos anti-SARS-CoV-2 no leite materno aumentaram rapidamente e foram significativamente elevados duas semanas após a primeira vacina (proporção de 2,05; P <0,001), quando 61,8% das amostras testaram positivo, aumentando para 86,1% na quarta semana (uma semana após a segunda vacina).
Os níveis médios permaneceram elevados durante o acompanhamento e, na sexta semana, 65,7% das amostras tiveram resultado positivo. Os anticorpos IgG específicos anti-SARS-CoV-2 permaneceram baixos nas primeiras 3 semanas, com um aumento na quarta semana (20,5 U / mL; P = 0,004), quando 91,7% das amostras foram positivas, aumentando para 97% nas semanas 5 e 6.
Um fato importante do estudo foi que nenhuma mãe ou bebê experimentou qualquer evento adverso sério durante o período do estudo. Quatro bebês desenvolveram febre durante o período de estudo 7, 12, 15 e 20 dias após a vacinação materna. Todos apresentaram sintomas de infecção do trato respiratório superior, incluindo tosse e congestão, que se resolveram sem tratamento, exceto por um bebê que foi admitido para avaliação de febre neonatal devido à sua idade e foi tratado com antibióticos enquanto aguardava os resultados da cultura.
Nenhum outro evento adverso foi relatado.
A secreção robusta de anticorpos IgA e IgG, específicos para SARS-CoV-2, encontrada no leite materno por seis semanas após a vacinação dessas mulheres mostraram fortes efeitos neutralizantes, sugerindo um potencial efeito protetor contra infecção em bebês.
O estudo ainda tem limitações. Primeiro, nenhum ensaio funcional foi realizado. No entanto, estudos anteriores mostraram capacidades de neutralização dos mesmos anticorpos medidos para este estudo.
No Brasil, outro estudo foi realizado por pesquisadores da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) em parceria com o HMU (Hospital Municipal Universitário) de São Bernardo com 201 mães e seus bebês e também atestou que não só a amamentação é segura, como também funciona como uma espécie de vacina contra a doença para os pequenos enquanto o aleitamento materno for mantido.
Até o momento, não há evidências de que uma mãe possa transmitir o SARS-CoV-2 ao seu bebê através do leite materno.
Mães com Covid-19 podem amamentar sem risco para o bebê
A Covid-19 não é uma contraindicação para a amamentação. Apesar de já terem sido encontradas pequenas partículas do novo coronavírus no leite materno, elas não são capazes de transmitir a doença.
Pelas recomendações tanto das evidências científicas quanto da Organização Mundial da Saúde (OMS), o aleitamento, mesmo a mãe estando com Covid-19, traz mais benefícios do que riscos para a criança.
A mãe pode amamentar tomando todos os cuidados preconizados às pessoas em geral durante a pandemia, ou seja, higiene rigorosa das mãos e uso de máscara.
No caso de uma mãe acometida pela doença que não esteja se sentindo bem ou não queira amamentar, há a opção de retirada do leite materno para que um outro familiar ou cuidador possa oferecer ao bebê.
Dra. Fabíola La Torre
Pediatra