Fantosmia: o perigo de perder o olfato
- Fabricio Colli
- 21/04/2025
- Saúde
Sensação de cheiros inexistentes, a fantosmia pode afetar uma ou ambas as narinas e está ligada a condições neurológicas ou respiratórias.
Se você já sentiu um cheiro forte de fumaça, perfume ou algo podre, mesmo sem nada por perto, experimentou um fenômeno chamado fantosmia. Também conhecida como alucinação olfativa ou “cheiro fantasma”, essa condição faz com que o cérebro registre odores inexistentes no ambiente. Embora ainda seja pouco conhecida, a fantosmia pode ter várias causas e, em alguns casos, exige atenção médica.
Esses odores fantasmas podem ser agradáveis ou desagradáveis, sendo mais comuns os cheiros ruins, que caracterizam a cacosmia. As causas variam e incluem infecções, traumatismos cranianos, doenças neurológicas, entre outras.
Causas e condições relacionadas
A fantosmia ocorre devido à ativação anômala de áreas do cérebro responsáveis pelo olfato, como o lobo temporal, o uncus, o giro parahipocampal e o córtex orbitofrontal, onde os cheiros são processados e interpretados.
“Qualquer irritação, inflamação ou regeneração anormal nessas áreas, como após uma infecção viral, pode gerar sinais distorcidos que o cérebro interpreta como odores inexistentes”, explica a neurologista Dra. Elaine Keiko Fujisao. “Além disso, a amígdala e o sistema límbico, que lidam com a memória emocional dos cheiros, também participam do fenômeno. Em alguns casos, a fantosmia pode carregar um conteúdo emocional intenso, com odores relacionados ao medo ou trauma, sugerindo a influência dessas áreas.”
Embora nem sempre seja motivo de preocupação, a fantosmia pode ser um dos primeiros sinais de alterações neurológicas. Quando o sintoma persiste ou vem acompanhado de outros sinais, é importante procurar uma avaliação médica para investigar a causa. A especialista aponta algumas condições relacionadas:
- Problemas nas vias olfatórias: infecções, pólipos nasais, rinossinusites.
- Distúrbios neurológicos: epilepsia, doença de Parkinson, Alzheimer, tumores cerebrais.
- Traumatismo craniano: especialmente lesões na base do crânio.
- Exposição a toxinas ou uso de substâncias: tanto legais quanto ilícitas.
- Distúrbios psiquiátricos: como depressão severa ou esquizofrenia.
Em enxaquecas com aura, algumas pessoas relatam cheiros estranhos como parte da aura sensorial. Por outro lado, em certos tipos de epilepsia, principalmente as do lobo temporal, o ‘cheiro de queimado ou podre’ pode preceder uma crise. Embora seja mais raro, em casos de AVC, lesões em áreas relacionadas ao olfato, como o córtex orbitofrontal, também podem gerar alterações olfativas, incluindo a fantosmia.
A COVID-19 também está associada a distúrbios olfativos. Pacientes podem desenvolver anosmia (perda do olfato), parosmia (alteração na percepção dos odores) e fantosmia (cheiros fantasmas), devido ao impacto do vírus no sistema nervoso central e nas vias olfatórias. Esses sintomas podem persistir por semanas ou até meses, especialmente em casos leves a moderados.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da fantosmia envolve exames clínicos e a análise do histórico médico do paciente. Testes de função olfatória e exames laboratoriais ajudam a identificar a extensão da disfunção e causas metabólicas ou infecciosas. Já exames como Ressonância Magnética (RM) cerebral, tomografia dos seios da face e eletroencefalograma (EEG) avaliam o sistema nervoso central e possíveis causas locais, como sinusite ou epilepsia.
Quando a causa é local, como infecções ou sinusites, o tratamento pode envolver antibióticos, corticóides ou até cirurgia. Nos casos neurológicos, o tratamento foca na doença de base, com medicamentos anticrise ou terapias específicas para condições como o Parkinson. “A reabilitação olfativa, um treino específico para o olfato, tem mostrado bons resultados, especialmente em casos relacionados a infecções virais”, afirma a Dra. Elaine.
Quando procurar atendimento urgente?
De acordo com a médica, “se a fantosmia for um sintoma novo e súbito, especialmente acompanhado de dor de cabeça intensa, fraqueza ou dificuldade para falar, é fundamental buscar atendimento médico de emergência. O mesmo vale para situações em que ocorra perda de consciência, trauma craniano ou agitação severa que possa colocar a vida da pessoa ou de terceiros em risco.”
Profissional consultada: Dra. Elaine Keiko Fujisao, médica neurologista membro titular da Academia Brasileira de Neurologia e da Sociedade Brasileira e diretora médica (Chief Medical Officer) da Neurogram.
Texto por: Fabricio Colli