Dia Nacional do Combate à Hipertensão: o que você precisa saber?
- 1145 Views
- Redação Saúde Minuto
- 26/04/2022
- Cardiologia Saúde Video
Dia 26 de abril foi escolhido para ser o Dia Nacional do Combate à Hipertensão. A hipertensão afeta mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo e é uma doença silenciosa, isto é, raramente apresenta sintomas. Para falar um pouco mais sobre o diagnóstico e tratamento da hipertensão arterial, que é uma doença crônica, Raquel Rojas entrevista o cardiologista e intensivista, Dr. Dante Senra. Confira!
P) Raquel Rojas:
“Doutor Dante, a gente acabou de falar que a hipertensão é uma doença silenciosa, como é que deve ser feito o diagnóstico dessa doença crônica e tão traiçoeira?”
R) Dr. Dante Senra:
“Bom, Raquel, a única maneira eficiente de fazer diagnóstico é aferindo, é medindo a pressão. Não é? E as pessoas como você falou erroneamente, ficam aguardando o sinal, ficam aguardando os sintomas, não é? E aí diz: “não sinto nada”, mas às vezes vai saber por uma complicação, a maneira mais eficiente é medir a pressão de tempos em tempos, sobretudo se você tem um histórico na família, também se você estiver acima do peso, tiver uma alimentação irregular, estiver sedentário, que são fatores predisponentes da hipertensão. O que angustia no que você falou que ela atinge, é responsável por 10 milhões de mortes por ano, um sétimo da população do planeta hoje é hipertenso, e isso esses dados vem aumentando assustadoramente nos últimos anos. E que não precisa ser assim, não precisa porque os hábitos tão pouco saudáveis da vida está corrida, tudo isso é compreensível, e a gente tem que lutar para tentar mudar isso, mas ainda que para as pessoas que não conseguem os remédios são muito eficientes, ao contrário do passado, com pouco ou nenhum efeito colateral oferecidos gratuitamente na rede pública, porque não pode comprar. Então, e na maioria das vezes você toma um comprimido por dia e resolve esse problema, tira esse problema da sua vida e evita a complicação futura,
As pessoas tem que saber que na grande maioria das vezes, ela não tem cura. É óbvio que você controlar os chamados fatores de risco que a gente acabou de mencionar, a obesidade o excesso do consumo de sal o estresse, que não é fácil controlar, você tende a diminuir muito os níveis de hipertensão e, eventualmente, poucas vezes até você pode ficar sem essa medicação. Mas isso é possível, mas pra quem não consegue, isso tem que saber que você vai precisar tomar o seu remédio a vida inteira, um comprimido por dia. Sem efeito colateral, e aí não tem nenhum problema.”
P) Raquel Rojas:
“Doutor, e quais são as referências? Para uma Pressão Arterial tida normal, é 12 por 8 ainda ou mudou alguma coisa?”
R) Dr. Dante Senra:
“Esse é um outro erro grosseiro que muitas pessoas cometem. Acha que não sentem nada e não estão hipertensos, isso nem sempre é verdade. Todo dia eu vejo no consultório, a pessoa diz: “Eu não tenho impressão”, eu vou meditar e está em 16… 17, porque as pessoas como nós falamos, fico aguardando os sintomas, agora tem que ter uma referência para ver a partir de quanto a gente precisa tratar, hoje é a gente diz que nos novos dados que foram referendados pela pelo American College, a sociedade Brasileira em consenso, uma pressão de 14:9. Já precisa de tratamento, não necessariamente o medicamentoso, mas precisa de um controle de alguma forma, com mudança de hábitos de vida, e se não conseguir, aí sim medicamentoso, então 14 por 9, é a nota de corte para a pressão baixa, aí sim, não ter referência para pressão baixa. É a que você se sente bem com ela as pessoas e isso é fisiológico. A pessoa tem 10 por 6 e vive normalmente, não tem nenhum problema, ela não é doente, mas para a alta não vale isso, tem que ter uma referência.”
P) Raquel Rojas:
“Existem também muitos mitos em relação a como aferir a pressão corretamente. O senhor poderia explicar para a gente como é realmente a forma certa de aferir a pressão?”
R) Dr. Dante Senra:
“Bom primeiro tem que aferir, de preferência com algum profissional que esteja habilitado para isso, e que tem expertises para medir, porque elas sofrem algumas interferências da posição do corpo, da altura que você coloca o aparelho, preferencialmente você tem que estar em repouso por pelo menos 5 minutos, sentado preferencialmente, tranquilo e medir a sua pressão com o aparelho na altura do coração, ou seja colocado no braço direito e sempre em repouso, se você chega correndo e mede a pressão ela tende a mudar, preferencialmente, no período da manhã, você não vai medir a sua pressão depois de uma refeição copiosa, onde você comeu muito e comeu muito sal, sempre no mesmo horário do dia, para você ter uma referência.”
P)Raquel Rojas:
“Uma vez feito o diagnóstico, a utilização do remédio é extremamente importante. Tomar um remédio no mesmo horário, sempre ou não, isso altera alguma coisa?
R) Dr. Dante Senra:
“Altera, assim, a maioria dos dos medicamentos agem 24 horas. Obviamente você não precisa acordar de madrugada para tomar o remédio, uma pequena diferença de alguns minutos… A gente não precisa ser tão rigoroso, porque aí você começa a criar dificuldades e problemas para o paciente. Então, por exemplo, estabelecer mais ou menos. “Olha, eu vou tomar o meu remédio depois do café da manhã e depois do jantar ou só depois do café da manhã, mas tomar no mesmo horário, de preferência, essa é a condição ideal.”
P) Raquel Rojas:
“Principalmente o clube do bolinha, tem muita resistência porque existe não sei se é um mito ou uma verdade que o remédio para controle da pressão pode causar impotência. Doutor, isso é um mito ou é uma verdade?”
R) Dr. Dante Senra:
“Então agora é um mito, mas já foi verdade, Á 30 anos a hipertensão era um enorme problema para o médico também, porque você tinha 3 ou 4 grupos de medicamentos e você praticamente escolhia o efeito colateral que a pessoa ia ter. O edema de uma inferior, uma impotência, alguns alguns medicamentos chegaram a ser proscritos porque tamanho era depressão que produzia, que aumentavam o índice de suicídio, imagina você, Isso não existe mais, absolutamente, hoje a incidência de efeito colateral é 1,5% a 2% das pessoas que tomam, e o médico dispõe de um Arsenal enorme de medicamentos.
Se você for sorteado e cair nesse 1,5% que tem efeito colateral, basta comunicar o seu médico que ele vai trocar por um outro medicamento. Hoje tem um Arsenal tão grande que é impossível que você tenha efeito colateral com todos os medicamentos, a grande maioria das pessoas não tem nenhum efeito adverso com a medicação, então adesão ao tratamento é muito mais fácil, isto, de impotência, de inchaço praticamente deixou de existir.”
P) Raquel Rojas:
“Bom, já que a gente tá falando do clube do bolinha, os homens sofrem mais de hipertensão ou as mulheres, qual essa relação, Dr.?”
R) Dr. Dante Senra:
“Os homens sofrem mais, possivelmente, porque se cuidam menos, têm poucos hábitos de adesão a tratamentos para a saúde. A mulher tem uma cultura médica muito maior, ela está habituada e desde a adolescência ir no ginecologista, na gestação do pré Natal, homens, erradamente vão ao médico quando preciso, existe muita resistência dos homens, então a incidência é muito maior nos homens, mas só até a menopausa, na menopausa vocês mulheres, perde um aliado importante que é o estrogênio, e o estrogênio é um vaso dilatador, então, as mulheres ultrapassam os homens em incidência de tanto de doenças do coração como da hipertensão.”
P) Raquel Rojas:
“É importante que as mulheres fiquem atentas, não é, doutor?”
R) Dr. Dante Senra:
“Sem dúvidas, é importante que você, ao chegar na menopausa, procure a sua ginecologista. Procure um cardiologista para fazer os exames de rotina, e sobretudo, se você não está chegando bem, a menopausa, as mulheres que chegam à menopausa acima do peso, fumando, estressadas, tem colesterol alto, tem um histórico familiar, faz 50 anos em média, né? Que a época que vocês, em média, entram na menopausa e tem infarto, tem complicações, não precisa ser dessa forma.”
P) Raquel Rojas:
“Doutor, agora a gente vai falar sobre o sal. O sal é realmente um vilão?”
R) Dr. Dante Senra:
“O som é um vilão, e um vilão poderoso. O brasileiro ingere sal demais, está entre os países do mundo que mais ingere sol, só perde para os países asiáticos, nós ingerimos em média 12 g de sal por dia e o recomendado pela organização mundial de saúde é 5G e é difícil também fazer esse controle pra a gente não colocar a culpa exclusivamente no hábito, porque 75% do Sal que nós ingerimos no Brasil vem do produto industrializado. Não é? Então a gente tem que tirar o que é possível, não pode ter o hábito ruim de adicionar sal na alimentação, isso é um hábito que as pessoas não conseguem tirar, e não adianta mudar o tipo de sal, o pessoal diz: “Mas eu uso sal do Himalaia, eu uso sal rosa”, a quantidade de sódio é muito semelhante, o único sal que é diferente, é chamado de sal dietético, que tem metade do sódio, mas isso é uma decisão que você tem que tomar com o seu médico, porque ele é rico em potássio e algumas pessoas que são hipertensas já tem algum déficit da função do rim, já tem um problema renal e não pode utilizar um excesso de potássio. Então essa decisão, você tem que tomar com o seu médico, mas o Sal é, sem dúvida nenhuma, um dos causadores desse aumento da incidência da hipertensão no mundo no Brasil.”
P) Raquel Rojas:
“Estresse, fatores emocionais também podem alterar a pressão?”
R) Dr. Dante Senra:
“Sim, pode e é frequente, daí isso a gente vê quase todos os dias que as pessoas falam: minha pressão está normal” aí você vai medir e ela está alta. Aí eles dizem, a síndrome do avental branco, e isso existe mesmo, mas eu digo para os pacientes, isso aqui é só mais uma situação de estresse das muitas que a gente convive no dia a dia que a gente passa no dia a dia, os remédios têm que ser eficientes para essa situação que na maioria das vezes, infelizmente, com um tipo de de de vida que a gente leva. São a maioria, no nosso dia, na nossa vida, porque quando você está de férias, passeando, viajando com a família, não precisa ou precisa de menos remédio, então o estresse tem uma enorme influência. Ela libera 2 hormônios, que aumentam a glicose e que produzem constrição das artérias, aumentando a pressão Arterial. E além da gente estar submetido a um estresse constante durante o dia a dia, na maioria das vezes, algumas pessoas não conseguem desligar situação de estresse e permanece com seus efeitos deletérios, maléficos durante o dia inteiro e às vezes durante dias. Então precisa tomar cuidado com esse fator de risco que faz parte da nossa vida.”
P) Raquel Rojas:
“Doutor, se a gente pudesse fazer uma lista dos principais causadores. A gente sabe que o fator, a genética, é óbvio, desponta, é uma coisa que não tem como lutar. Mas se a gente pudesse fazer uma lista dos inimigos da Pressão Arterial, o senhor poderia listar para a gente?”
P) Dr. Dante Senra:
“Olha, sem dúvida nenhuma, eu colocaria em primeiro lugar com o aumento de peso. Porque o aumento do peso é um pacote, não é? Quer dizer, ele não vem nunca sozinho. A gente fala: “Ai, ele é obeso mas é saudável” isso é exceção absoluta. Se não tem problema hoje com grande possibilidade, vai ter, não é? E isso é assustador porque é. Hoje, 55% dos brasileiros tem sobrepeso, que é o IMC que é aquela é referência, aquela medida que a gente faz numa relação com a altura e de peso acima de 25. O que é sobre peso, quase 30%, 25% ou 20% a 28% dos brasileiros já são obesos do IMC acima de 30 e o aumento do peso. Quer dizer, ou é o originada ou origina o sedentarismo pelo sedentarismo, quer dizer, ele traz consigo outros fatores de risco, o aumento da glicemia porque tem resistência e insulina, o aumento do colesterol…”
P) Raquel Rojas:
“Doutor, a gente sabe também que a hipertensão está relacionada a quase 80% dos casos de derrame e 60% da incidência de infartos, o que a pessoa deve fazer quando ela nota que ela tem hipertensão, que esta hipertensão, está descontrolada. A gente sabe que ela é silenciosa, mas num pico de hipertensão, o que ela deve fazer para evitar um infarto, por exemplo, ou as consequências de um possível AVC?”
R) Dr. Dante Senra:
“Então, assim, o ideal é que a pessoa procure um médico no momento, em um pico de estresse. Sobretudo, ele identificou porque deve ter sintoma, não é? Ou às vezes não. Às vezes, teve uma discussão ou alguma coisa, vai medir a pressão e a pressão está lá em cima, mas na maioria das vezes têm sintoma, o ideal é que nesse momento você se comunique com o seu médico ou for possível, vá a um pronto-socorro, não é. Mas se você não conseguir nenhuma das duas coisas, em uma medida extrema, você deve tomar, dependendo, obviamente, da dose. Essa conversa precisa ter sido amadurecida antes com o médico, mas em uma medida extrema você toma outra dose de medicamento até dar tempo de você ter acesso a um tratamento de saúde.”
P) Raquel Rojas:
“Bom e para finalizar doutor, eu gostaria de algumas orientações, de como evitar ou pelo menos amenizar os efeitos da hipertensão.”
R) Dr. Dante Senra:
“Raquel, você sabe, eu costumo dizer o que eu escuto muito no consultório, num paciente que opera o coração num paciente que esteve internado, com uma crise hipertensiva ou infelizmente, com uma complicação da hipertensão. Eles dizem: “Poxa, Dante, você mentiu para a minha família”, vamos lá no que eu menti? “Você falou que eu ia operar o coração, ia ter vida normal e agora você está me me aconselhando a não fumar, fazer exercício, a perder peso?” Falei: “Mas é isso mesmo não é mentira, você que teve uma avaliação inadequada. Tudo isso que eu estou falando para você é vida normal. A gente vive anormalmente, a gente trabalha demais, a gente não tira férias, a gente come demais, a gente come sal demais, a gente está sempre estressado, a gente não faz exame médico como deveria, não vai ao médico, não afere a pressão. A orientação é procurar ter uma vida normal e a vida normal inclui uma vida saudável na sua definição.”
P) Raquel Rojas:
“A incidência de hipertensão aumenta com a idade, com o avanço da idade, doutor?”
R) Dr. Dante Senra:
“Aumenta claramente existe uma relação que todo cardiologista, todo o médico sabe linear com a idade, hoje a gente diz, se você tem 50 anos, você tem 50% de chance de ser hipertenso, 60 anos, 60%, 70 anos, 70% de chance de ser hipertenso, mas o que você não precisa ter é uma hipertensão descontrolada, você é um hipertenso, e não corre risco pela sua hipertensão porque você controla ativamente de maneira satisfatória.”
Raquel Rojas:
“Doutor Dante, muito obrigada pela aula, pelas orientações, é sempre um prazer recebê-lo aqui com certeza voltará outras vezes aqui no Saúde Minuto, muito obrigada por doar seu tempo para a gente.”
Dr. Dante Senra:
“Eu que agradeço. O prazer é sempre meu, eu estou a sua disposição.”
Raquel Rojas:
“Muito obrigada, até a próxima.”
Dr. Dante Senra | Cardiologista e Phd pela USP
INCREVA-SE no nosso canal e ATIVE as notificações!