Transplante fecal: como funciona e quais os benefícios
- Redação Saúde Minuto
- 11/04/2023
- Proctologia Saúde
O transplante de microbiota fecal, popularmente conhecido como transplante fecal (TF), é a infusão de fezes líquidas tratadas de um doador saudável no trato gastrointestinal de um receptor para tratar uma
doença específica.
A microbiota intestinal fornece uma barreira natural contra microorganismos e tem papel fundamental na modulação do sistema imunológico do hospedeiro. Estudos indicaram que a riqueza e diversidade de espécies bacterianas no intestino humano podem ser um indicador de saúde. A microbiota intestinal humana é uma comunidade complexa de microorganismos, que começa a se formar durante o nascimento e cada indivíduo tem sua própria microbiota intestinal específica, cuja composição é influenciada por vários fatores ambientais, incluindo dieta, estilo de vida, uso de antibióticos e hábitos de higiene.
As mudanças específicas na composição da microbiota intestinal, denominadas disbiose, tem sido associadas não apenas a distúrbios digestivos, mas também a doenças inflamatórias intestinais, síndrome do intestino irritável, síndrome metabólica, obesidade, diabetes tipo 1 e 2, atopia, esclerose múltipla, autismo, entre outras. Restaurar uma comunidade microbiana saudável é, portanto, uma estratégia terapêutica promissora para estas doenças. Duas semanas após o TF, a composição bacteriana fecal do receptor se assemelha à do doador. Essas mudanças foram acompanhadas da resolução dos sintomas a longo prazo. O TF traz a possibilidade de transmissão de agentes infecciosos e, portanto, testes de triagem rigorosos são recomendados para reduzir esse risco. Uma vez que um doador é selecionado, amostras de sangue e fezes devem ser testadas para patógenos sendo recomendado o uso de um questionário de doadores que seja semelhante aos protocolos atuais para triagem de doadores de sangue. As fezes do doador são tratadas, filtradas e diluídas antes da administração no receptor. A administração de fezes de doadores pode ser realizada através do trato gastrointestinal inferior, incluindo colonoscopia ou enema de retenção ou via superior, como sonda nasogástrica, nasoenteral ou endoscopia digestiva alta. Não há evidências definitivas para a escolha de uma modalidade em detrimento da outra. Esta terapia pode ser segura e bem tolerada sem descrição de eventos adversos graves. Os possíveis efeitos colaterais mais comuns são leves e incluem desconforto abdominal, aumento da flatulência, alteração de hábito intestinal, vômitos e febre passageira. A maioria desses sintomas é autolimitada e desaparece dentro 48 horas. Outra preocupação é que a fama do TF pode levar os pacientes a usar uma abordagem do tipo “faça você mesmo”, sem controle médico, com consequências possivelmente
prejudiciais. Além das questões regulatórias, devemos considerar a seleção e triagem de doadores, protocolos padronizados de preparação de fezes e via de administração, número de infusões e quantidade de material infundido, preparação do receptor e segurança a longo prazo.
Finalmente, há necessidade de desenvolver novos métodos de entrega para melhorar a acessibilidade. No futuro, equipamentos convenientes para preparação de fezes e formulações orais preenchidas com suspensão fecal ou preparações em cápsulas fornecerão menos preocupações estéticas, maior conveniência e maior eficácia.
Texto por Marcella Conz | Proctologista da Clínica Gastro ABC