Esclerose Múltipla: Causas, sintomas e tratamentos
- Redação Saúde Minuto
- 31/05/2024
- Neurologia Saúde
Imagine uma mulher jovem que acorda com a visão turva de um dos olhos, principalmente na região central da visão, com uma certa dor atrás deste mesmo olho e que piora à movimentação ocular.
Este sintoma piora em alguns dias, mas após algumas semanas tem melhora espontânea, mas a visão daquele olho nunca mais voltou a ser a mesma, e desde então ela sempre nota uma turvação visual discreta e residual na visão daquele olho. Passam-se meses, até que ela começa a sentir uma dormência com uma sensação vaga de peso em um dos braços, associado à uma discreta incontinência urinária, mas ela deixa pra lá, e em poucas semanas esses sintomas também melhoram espontaneamente, mas também deixando um pouco de dormência residual desde então.
Até que um dia ela apresenta um sintoma mais severo e incapacitante, como perda visual mais grave, fraqueza incapacitante de algum membro que afeta o caminhar dela, visão dupla, vertigem severa entre outros, e assim é internada e submetida à uma investigação mais profunda a qual identifica lesões típicas de desmielinização no sistema nervoso central pela ressonância nuclear magnética, levantando a Esclerose Múltipla como principal hipótese diagnóstica.
Histórias assim são muito comuns no consultório de Neuroimunologia, pois o diagnóstico da Esclerose Múltipla pode demorar a ser feito justamente pela doença poder gerar sintomas não tão intensos e mais inespecíficos, e que podem até melhorar de maneira relevante espontaneamente com o tempo, fazendo com que o paciente deixe de procurar investigação em muitos casos, além do fato da doença acometer pacientes mais jovens, o que se torna um pouco contraintuitivo já que, popularmente, doenças mais severas são mais associadas a pessoas com idade mais avançada. A Esclerose Múltipla é uma doença autoimune do sistema nervoso central, que acomete pessoas mais jovens, mais mulheres do que homens, com predomínio em caucasianos e em populações mais distantes da linha do Equador.
A forma da doença mais comum é a remitente recorrente na qual o paciente apresenta surtos inflamatórios entremeados com períodos de remissão, podendo ter acúmulo de sequelas ao longo do tempo. As formas progressivas apresentam uma piora insidiosa e progressiva dos sintomas, sem um surto bem definido no tempo como na forma remitente recorrente.
Os critérios diagnósticos da doença utilizados atualmente são os critérios de McDonald de 2017 que, inclusive, estão prestes a ser atualizados. E o diagnóstico precoce é crucial, pois atualmente existem tratamentos preventivos de alta eficácia e grande segurança que podem proteger o paciente contra surtos da doença, e assim, manter sua funcionalidade e qualidade de vida de maneira prolongada.
Portanto, a visão da associação engessada entre Esclerose Múltipla e invalidez já não é mais verdade, pelo menos na grande maioria dos casos, pois a evolução dos tratamentos para a doença possibilitaram a preservação da capacidade funcional dos pacientes de maneira notável. E, claro que, o tratamento é multiprofissional, envolvendo o componente medicamentoso, reabilitação com Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Neuropsicologia, suporte nutricional, atividade física entre outros. Então, ao surgimento de qualquer sintoma suspeito, uma avaliação Neurológica e Neuroimunológica é de grande importância.
Texto por Dr. Thiago Taya | Neurologista e Neuroimunologista