Como o Zolpidem pode acabar atrapalhando o seu sono e também a sua vida?
- Redação Saúde Minuto
- 15/12/2022
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- Carlos Uchoa Fisioterapia Saúde
Recentemente, as consequências do uso abusivo e desenfreado do Zolpidem virou assunto nas redes sociais e nos principais veículos de comunicação, com especialistas alertando sobre os riscos que isso representa para a saúde das pessoas. Lançado no início da década de 90 para tratar insônia, nos últimos tempos o seu uso se popularizou, inclusive entre os mais jovens, como um “santo remédio” para dormir tranquilamente.
Viralizou nas redes, virou “modinha”, e agora vem preocupando médicos do mundo inteiro.
O Zolpidem é um fármaco da classe hipnótica, do grupo das imidazopiridinas, de rápida ação, agindo no neurotransmissor ácido gama-aminobutírico, mais conhecido como GABA. Funciona no cérebro basicamente como um interruptor de luz, que liga e desliga. De forma natural, os neurotransmissores GABA atuam como um indutor do relaxamento e é por conta deles que vamos lentamente “pegando” no sono, em um processo gradativo que pode levar até 30 minutos. Já o Zolpidem vai lá e desliga tudo e, por isso, a pessoa adormece rapidamente.
Porém, esse remédio tem indicação médica específica, de uso pontual em situações de insônias passageiras (ocasional ou transitória) como, por exemplo, um trauma, problemas financeiros ou a morte de um familiar ou amigo. É uma medicação controlada e o seu uso prolongado é desaconselhado, não devendo ultrapassar quatro semanas.
O grande problema é que o Zolpidem vem sendo utilizado de forma indiscriminada para “tratar” qualquer problema de sono, causando preocupação em médicos, pois é uma medicação controlada, com receituário específico, e que hoje já se sabe que tem duas características que o tornam perigoso: ele causa dependência e também tolerância. Ou seja: depois de um tempo, a pessoa só consegue dormir se tomar remédio e ainda precisa de doses cada vez maiores, de 2, 3 ou até 4 comprimidos por noite.
E não é só isso: quando usado indiscriminadamente e sem acompanhamento médico, o Zolpidem pode causar eventos adversos como amnésia (os apagões que o pessoal fala das redes), baixa coordenação motora, alucinações, diminuição do raciocínio, perda de memória e sonambulismo, entre outros. Há casos de pessoas que ficam meio acordadas, meio dormindo, e no dia seguinte não se lembram do que aconteceu na noite anterior, correndo inclusive riscos de sofrer acidentes domésticos graves pelo fato de não estarem 100% conscientes. São comuns relatos de agressões a familiares, automutilação, envios de mensagens sem filtro via aplicativos, ingestão de álcool ou alimentos acima do normal e muito mais.
Segundo a Associação Brasileira do Sono, 73 milhões de pessoas sofrem de insônia no Brasil. A insônia é definida por dificuldade de iniciar e manter o sono ou o despertar precoce por mais de três vezes na semana, por três meses consecutivos, gerando sonolência excessiva durante o dia, falta de concentração e irritação. O principal tratamento para combater o problema é a Terapia Comportamental Cognitiva para Insônia (TCCi), com mudanças de hábitos, crenças e perspectivas relacionadas ao quarto, a cama e ao próprio sono. O Zolpidem é apenas uma das ferramentas de um processo de tratamento de distúrbios do sono, que geralmente é muito complexo, multifatorial.
Assim como todo remédio, seu uso indiscriminado pode trazer causar danos para a sua saúde e nesse caso até para o seu sono. Se você está com dificuldades para dormir, o mais importante é uma boa avaliação médica e o acompanhamento de uma equipe de especialistas para tratar esse distúrbio de forma mais assertiva possível, afinal, dormir bem é essencial para uma boa saúde.
Referências:
- Christopher L Robinson, Rajesh Supra, Evan Downs, Saurabh Kataria, Katelyn Parker, Alan D. Kaye, Omar Viswanath, Ivan Urits, Daridorexant for the Treatment of Insomnia, Health Psychology Research. 2022.
- Dopheide JA. Insomnia overview: epidemiology, pathophysiology, diagnosis and monitoring, and nonpharmacologic therapy. Am J Manag Care. 2020.
- De Crescenzo F, D’Alò GL, Ostinelli EG, Ciabattini M, Di Franco V, Watanabe N, Kurtulmus A, Tomlinson A, Mitrova Z, Foti F, Del Giovane C, Quested DJ, Cowen PJ, Barbui C, Amato L, Efthimiou O, Cipriani A. Comparative effects of pharmacological interventions for the acute and long-term management of insomnia disorder in adults: a systematic review and network meta-analysis. Lancet. 2022
- Andrea Bacelar Luciano Ribeiro Pinto Jr. & Colaboradores. Insônia do diagnóstico ao tratamento. Associacao Brasileira do Sono. 2019
5 Dicas para ter um boa noite de sono
- Rotina: Manter horários regulares para dormir e acordar.
- Estimulantes: Evite cafeína e bebidas estimulantes como álcool e achocolatados no mínimo 6 horas antes de dormir.
- Quarto: Reserve o quarto para dormir e/ou namorar, não leve trabalho para cama.
- Alimentação: Evite comidas pesadas antes de dormir, mas também não durma de barriga vazia.
- Iluminação e temperatura: Noite é feita para dormir, desligar o aparelho de celular uma hora antes de ir para cama e manter o ambiente em uma temperatura agradável.
Texto por Carlos Uchoa | Fisioterapeuta
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